Quando termina a responsabilidade de criar os filhos?

Quando termina a responsabilidade de criar os filhos?

Boletim
09/02/2020

Por Fernanda Lee (6 minutos e 20 segundos de leitura) – Publicado em fevereiro de 2020

Seja qual for a idade que seus filhos têm hoje, é certo que um dia eles saírão de casa e terão a suas próprias vidas. Eles vão precisar tomar decisões sobre aluguel ou compra de casa. Qual cursos vão se matricular na faculdade. Gerenciar e pagar suas próprias contas. E quando isso acontecer, você vai querer celebrar o trabalho bem feito de ter criado seus filhos para ter sucesso na vida.

 

Essa transição gradual da adolescência para a fase adulta está cada vez se estendo por mais tempo, e os filhos estão saindo de casa mais tarde. No Brasil, esse fenômeno foi nomeado como “geração canguru” e nos Estados Unidos como “geração bommerang”. Cada vez mais jovens entre 20 e 35 anos ainda moram com os pais, ou voltam da faculdade para morar com eles. Segundo uma pesquisa recente divulgada pelo Pew Research Center nos Estados Unidos mostra que 33% dos jovens entre 18-34 anos ainda moram com seus pais. No Brasil, segundo o IBGE, são 24% dos jovens morando com seus pais, com uma tendência aumentando a cada ano.


Crescer não é só comemorar mais um aniversário, é um processo consciente de desenvolver a independência, e isso envolve saber quando e como pedir ajuda. E esse processo começa desde cedo na primeira infância, quando as crianças pequenas buscam sua autonomia dentro de casa. Quando seu filho chega na adolescência, você precisa aprender a começar a compartilhar a cadeira do piloto e passar a ser o co-piloto. Essa é uma transição gradual que demanda disponibilidade, apoio dos pais e uma nova mentalidade sobre como criar os filhos na atualidade.

Então, como saber quando e quanto se envolver no processo de independência dos seus filhos? Felizmente, há princípios que podem te guiar para minimizar a frustração e a impotência, e te preparar para ser um co-piloto efetivo e que dá apoio para seu filho ter sucesso na vida.

 

1 . Encoraje, e não mime!

Muitos pais caem na armadilha de oferecer total suporte financeiro quando os filhos são adultos, e acabam roubando do jovem a oportunidade de desenvolver essa habilidade. Desde que você presentear seu filho com um celular, dê a ele a responsabilidade de pagar parcialmente pelo uso do aparelho com sua mesada. Há uma diferença grande entre mimar e encorajar. Um cliente meu, presenteou a filha recém-casada com um apartamento mobiliado, e arcou com todas as despesas de condomínio, luz e água. Ele até colocou um carro novo na garagem para ela. Depois de um ano, a filha se divorciou e foi morar com os pais. Esse pai teve que repensar a sua estratégia, e então, ofereceu vender o apartamento que estava em seu nome, alugar um outro com um aluguel bem mais baixo, e dar o restante do dinheiro a ela, contanto que ela planejasse a sua vida financeira, de forma que ela pagasse suas próprias contas, baseado na quantia que ela ganha no seu atual emprego. Aprender a ser co-piloto significa dar apoio financeiro e material baseado num plano que responsabiliza seu filho, e não o mima.

2 . Erros são ótimas oportunidades de aprendizagem:

Muitos pais querem evitar que seu filhos sofram. Chegam até a pensar em cenários catastróficos: não terminar a faculdade, não conseguir um emprego, ou morar na rua. Esse tipo de mentalidade leva os pais a reagirem de forma compensatória, e roubam dos filhos a oportunidade de aprender importantes lições na vida. Uma mãe foi até a faculdade pedir ao professor que estendesse o prazo de entrega do projeto por mais um dia, porque o filho esqueceu de entregar. Temos que permitir que os filhos sofram as consequências das suas escolhas, quando elas não envolvem risco de vida, é claro! Não estamos dizendo para causar sofrimento aos filhos, mas sim permitir que eles vivenciem as consequências das suas escolhas. O que acaba causando sofrimento é ouvir dos pais: “Tá vendo, você sempre foi assim… Quando é que você vai aprender?” Você pode ajudar a transformar erros como oportunidades para aprender ao perguntar: “O que você aprendeu com isso?” “O que vai fazer diferente na próxima vez?” “Quer conversar sobre isso?”

3 . Invista tempo em treinamento

As habilidades de vida são aprendidas ao longo do tempo. É como ensinar a dirigir um carro, e que de uma maneira simplificada podemos resumir em 4 fases:

I – Você dirige, e ele assiste.

II – Você dirige, e ele ajuda.

III – Ele dirige, e você ajuda.

IV – Ele dirige, e você assiste (para celebrar e encorajar, e não criticar).

Aprender a ser co-piloto é uma habilidade que permite a sua contribuição limitada, sem tomar posse do veículo. Afinal, ele só vai aprender se estiver com a mão no volante e o pé nos pedais. Assim, ele terá as habilidades para ter sucesso na vida, do jeito dele.

Se você estiver indo no caminho certo, seu filho vai querer assumir a direção da sua própria vida e permitir que você se sente no banco do passageiro!

Fonte:

Nelsen, Jane. Disciplina Positiva. 3ª. Edição revisada e atualizada. Editora Manole

https://www.ibge.gov.br/

https://www.pewresearch.org/