A ciência da conexão humana

A ciência da conexão humana

Boletim
21/04/2020

Por Fernanda Lee – (4 minutos e 24 segundos de leitura) – Publicado em Abril de 2020

Foi publicado no Wall Street Journal do dia 4/abril/2020, um artigo super interessante sobre a ciência de nos manter conectados e, como as informações eram baseadas em estudos científicos, eu achei muito útil e quero dividir com vocês alguns pontos. Talvez algumas dessas coisas podem validar o que você já faz ou podem te ajudar a fazer pequenos ajustes para melhorar a sua percepção e qualidade de vida.

Como é que você tem as suas necessidades sociais atendidas durante a pandemia?

Por meio de alguns experimentos da neurociência social, foi possível rastrear os níveis de hormônio circulando no nosso cérebro e sistema biológico para medir o estado físico por causa do isolamento. O nosso estado físico afeta a nossa resiliência.

Sabemos que as interações sociais são tão necessárias quanto comer, beber e dormir. E ao mesmo tempo que o distanciamento social reduz a transmissão do vírus (o que é bom para todos nós), isso também aumenta a nossa ansiedade, frustração e solidão (o que é ruim para nós).

Animais que foram forçados a ficar isolados mostraram mudanças duradouras no cérebro, incluindo aumento de agressividade nos machos, ansiedade, depressão, diminuição de imunidade às infecções e maior procura por bebida alcoólica, comida e morfina.

Também foram compilados dados de 24 estudos sobre o impacto psicológico de outras quarentenas na época do SARS, H1N1 e Ebola que mostraram as mesmas reações.

Mais medo, mais substâncias alcoólicas e, olha só que interessante: mais resistência ao contato pessoal. 

E por que será?

Porque, como animais sociais que somos, a gente depende de gestos físicos para desenvolver a confiança nas outras pessoas. Um aperto de mão, um tapinha nas costas, um high-five.

E os eventos sociais, as tradições de reunião de família, encontros religiosos e espirituais agora representam um risco. Um risco de contágio, de doença, e a gente começa a sentir desgosto, e até nojo, para nos proteger de um perigo real. Esse é o mesmo nojo que apresentamos quando vemos uma comida podre! Isso pode nos induzir a sentimentos de superioridade moral e evasão social.

Muito em breve será publicado um estudo de um grupo de 36 psicólogos sobre o Covid-19, mostrando que o sentimento de nojo influencia a maneira que formamos nossa opinião sobre as pessoas, e podemos fazer julgamentos, agir com mais hostilidade e pode até ter consequências letais.

E até que possamos voltar a abraçar, beijar e socializar de novo, a neurociência social pode nos ajudar a fazer as interações virtuais ficarem mais significativas:

Seguem algumas dicas:

  1. Conversar diretamente com alguém ou sentir que alguém está falando diretamente conosco, dando pistas sociais explícitas. Sorrindo quando te vê na tela, respondendo à uma pergunta ao telefone, e fazendo mímicas dos mesmos movimentos.
  2. Mostrar que você está prestando atenção dando retornos rápidos em segundos. Se você está na linha e alguém do outro lado não responde, você pergunta: “Ei, tem alguém aí?” A gente precisa de uma confirmação que estamos sendo escutados, sem atraso na resposta.
  3. Oferecer proximidade via Zoom colocando a tela na altura dos seus olhos, olhando horizontalmente para que as pessoas possam ver as suas micro expressões. Por isso, é importante colocar luz no seu rosto e permitir que o seu gato, cachorro ou as crianças façam parte do enquadramento da sua telinha.
  4. O artigo menciona dois ingredientes-chave da neurocientista Elizabeth Redcay para atender a nossa necessidade de toque via videoconferência. Primeiro, é prestar atenção na mesma coisa, ao mesmo tempo. Segundo, é poder reagir instantaneamente. O cérebro se ilumina e é banhado pela recompensa social. E isso é mais valioso do que assistir a um vídeo já gravado. Portanto, interagir ao vivo é ingrediente-chave!

Num estudo da neurocientista Rebecca Saxe, ela usou a ressonância magnética para avaliar o que acontecia antes e depois no cérebro das pessoas após um dia de isolamento social, e revelou que o cérebro mostrou atividades indiscutivelmente iguais às de pessoas que fizeram jejum o dia todo.

Pessoas que são forçadas a ficar isoladas estão sedentas por interações sociais da mesma maneira que imploram por comida!

Desejo que em breve tudo isso passe e possamos abraçar, beijar e interagir para que a ocitocina liberada perdure por muito tempo em nós e entre nós.

Fonte: The Wall Street Journal, Review session, 4/abril/2020.