Quando falamos em criar os filhos, muita gente se refere aos bons e velhos tempos. Mas será que realmente existiu algo como os “bons e velhos tempos”? Nos últimos cinquenta anos a nossa sociedade mudou. Essas mudanças oferecem uma explicação para algumas das diferenças que estamos vendo no comportamento das crianças hoje, e podem nos ajudar a nos preparar melhor no presente e para o futuro.
Cinquenta anos atrás, como era o mundo? Predominantemente de modelos autoritários e submissão. Você pode encontrar exemplos em casa, onde a palavra do pai era final. Só o olhar do meu pai, eu já sabia que tinha que ficar em silêncio. No trabalho o patrão era o patrão, e nas escolas o professor era considerado uma figura de autoridade super respeitada. Naqueles “bons e velhos tempos” o “normal” e esperado era uma liderança de cima para baixo (ou vertical). Os pais não “defendiam” os seus filhos. Se uma criança fosse repreendida na escola ou na rua, os pais ouviriam o que aconteceu de um adulto sem muito interesse no que a criança tinha a dizer.
Pela lente romantizada, vestindo óculos cor de rosa pode parecer que esses métodos autoritários “funcionavam” porque as crianças são lembradas como sendo mais submissas e obedientes. Era mais fácil controlar as crianças pelo medo e pela ameaça. Mas… quais são os resultados de longo prazo ao exigirmos que as crianças sejam submissas e obedientes? Os estudos mostram que crianças que crescem em ambiente altamente autoritários se tornam “viciadas em aprovação” (Ou seja, como a minha segurança física ou emocional está em jogo, é melhor eu obedecer), “rebeldes sem causa” (Já que eu sou vista como uma criança sem jeito ou má, eu vou assumir esse papel de uma vez por todas) ou super compensando e tentando provar para Deus e o mundo: “Você não pode mandar em mim”.
Porém, a conversa sobre direitos humanos têm ganhado mais palco, mais presença. Uma nova psicologia estava nascendo na virada do século passado, e a ideia de igualdade para todas as pessoas, incluindo as crianças começou a ficar mais acessível para a massa. Lógico que, como toda a nova ideia que ameaça a normalidade, sofre resistência. Como assim, dar voz às crianças?!? Como assim dar voz aos colaboradores? Como assim a mulher pode trabalhar e votar?
E por mais que nas décadas de 60 e 70, os movimentos dos direitos humanos ganharam mais tração, aceitar uma nova ideia é um processo confuso e árduo, especialmente para os pais e professores.
As regras de como a gente vive como sociedade estavam sendo reescritas, mas ninguém tinha as ferramentas disciplinares respeitosas para substituir os velhos métodos autoritários. Então, se a gente imaginar que a educação é um pêndulo, de um lado temos o autoritarismo, o que estava sendo desbancado, naturalmente o pêndulo oscilou para o outro lado, e uma criação em casa e uma educação nas escolas mais permissiva. E hoje, nós ainda estamos nos recuperando deste pêndulo que está no outro extremo.
Como resultado, em casa, os gritos foram substituídos por discussões, barganhas e negociação. As palmadas foram substituídas por cantinhos do pensamento. Punições foram substituídas por recompensas. As crianças receberam mais liberdade e mais escolhas, porém sem limites, nem senso de responsabilidade. O modelo autoritário de cima para baixo inverteu e agora temos a permissividade, que é o modelo de baixo para cima. As crianças estão no topo e o adulto embaixo.
Por que as crianças não são como nos bons e velhos tempos?
Educação dos velhos tempos
Entender isso, é fundamental entender porque as crianças de hoje estão expostas a uma cesta abundante de estímulos que competem por sua atenção. As crianças têm mais coisas, mais entretenimento, mais experiências divertidas, mais brinquedos, mais mídia que entregam informações sem interação verdadeira de conexão e responsabilidade. E nisso roubamos oportunidades de verdadeira conexão humana, descoberta e exploração.
O que é preciso então? Primeiro, entender o processo de evolução. E segundo, aprender novas ferramentas para ajudar as crianças a desenvolver responsabilidade, senso de pertencimento, auto disciplina e pensamento crítico.
Precisamos abrir mão de achar que as crianças são frágeis e a única obrigação delas é ir bem na escola, porque isso faz com que nós demos a elas cada vez menos oportunidades de realmente se sentirem necessárias e de ajudar dentro de casa. Hoje, a maioria das crianças não prepara seu próprio lanche para a escola, e muitas não têm tarefas domésticas. Em nome do amor, elas recebem muito e são obrigadas a fazer pouco. Elas desenvolvem uma atitude de se achar no direito de tudo. Em um esforço para dar às crianças “o melhor”, os adultos roubam delas a oportunidade de desenvolver um caráter forte, e de vivenciar o senso de pertencimento (amor incondicional) e importância (capacidade e responsabilidade) que vem com uma contribuição significativa dentro de casa, na escola e em sua comunidade.
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