Por Rodrigo Gaspar e Fernanda Lee (8 minutos e 28 segundos de leitura) – Publicado em Maio de 2020
Famílias são compostas de várias formas e tamanhos. Independente do estilo da sua família, o papel do pai está mudando em todas as dinâmicas familiares. Em tempos de hiperconectividade, hiperatividade e equidade, o tradicional papel do pai “provedor” está evoluindo e abraçando novas funções no trabalho, na criação dos filhos e nas tarefas domésticas.
Nos últimos 150 anos, presenciamos quatro revoluções industriais em que saímos de um cenário agrícola para um sistema ciber-físico. Na esfera das famílias, a postura tanto das mulheres quanto dos homens têm mudado radicalmente. Uma das razões para tal mudança é a força de trabalho que, atualmente, é empregada tanto pelas mulheres quanto pelos homens. Com a busca por direitos iguais no campo de trabalho, cada vez mais observamos a busca de direitos iguais dentro dos lares.
O COVID-19 está servindo de catalisador para essa reflexão. Quem poderia prever uma mudança na dinâmica familiar como a que estamos vivendo agora? O padrão médio de ficar 40 horas semanais trabalhando fora de casa foi, de uma hora pra outra, alterado devido às normas de isolamento social. A convivência forçada está provocando uma mudança que pode gerar uma transformação geracional.
Até então, tínhamos pais ausentes por conta do trabalho fora de casa. Agora temos milhões de adultos dentro de casa trabalhando ao lado dos seus filhos e cônjuges, que também estão em casa. Parafraseando o psicólogo Alexandre Coimbra, temos uma horda de pais presentes-ausentes no mundo digital que vivemos. A reunião forçada das famílias gera uma oportunidade única de ressignificação desta presença real, já que o tempo ao lado dos filhos (fisicamente falando) já não é mais uma desculpa. Como a balança pesa ainda mais para o lado masculino quando falamos sobre isso, listamos cinco maneiras para os homens agirem de forma mais cooperativa na família. Essa lista foi co-criada na 1° Conferência Nacional de Disciplina Positiva, conduzida por mim, Rodrigo Gaspar, em uma discussão entre pais e mães.
5 maneiras para os homens agirem de forma mais cooperativa na família
1. Interessar-se por um novo modelo de aprendizagem parental;
Há um movimento de homens que querem fazer diferente e já arrastam milhões de pessoas no mundo digital. Marcos Piangers, Marcos Mion, Paizinho Vírgula, Pai Maneiro, Pai Vem Cá, Pai por Inteiro e outros que investem suas vidas profissionais para mudarem sua história e inspirar muitos outros nessa transformação de mentalidade aberta.
2. Mulher respeitar o agir do homem. Visão compartilhada do que queremos para os filhos;
Famílias são construídas ao longo da vida, e nem sempre concordamos com o que o nosso cônjuge acredita ou valoriza. Esses conflitos são oportunidades para conversar sobre o que vocês querem alcançar juntos. Conversem entre vocês e tentem escutar mais do que falar. Converse com os filhos também por meio de reuniões de família. (Os passos para uma reunião de família colaborativa podem ser encontrados gratuitamente na loja online do site filosofiapositiva.com.br). Depois que vocês concordarem em algumas ações, é importante reforçar que cada adulto tem uma maneira de trazer o combinado à realidade. Esperar que o outro faça do seu jeito pode causar mais problema do que colaboração. Honre as diferenças, pois todos crescem com a diversidade.
3. Conscientizar a mulher da disputa de poder dentro do lar;
A dinâmica de relacionamento entre casais está mudando. Em um estudo do Brigham Young University (EUA), publicado pela Revista Crescer, reuniu 143 casais heterossexuais e constatou que 70% das mulheres se queixavam que os smartphones atrapalham seu relacionamento amoroso. Se esse movimento afeta a parte conjugal, podemos imaginar o impacto negativo que pode causar nas crianças.
Além da distração do eletrônico, será que você, mulher está sendo territorial em alguma área da sua casa, ou na maneira que as coisas devem ser feitas? Muitas crianças crescem ouvindo “isso é coisa para mulher fazer” ou “isso é coisa de macho” e acabamos nos baseando nas crenças da infância para dar uma desculpa para fazer ou não fazer uma tarefa em casa. Foque em realizar a divisão de tarefas em casa por habilidades e aptidão, e não por gênero.
4. Investir tempo em treinamento do homem;
Independente do formato da família que você possui, sabemos que o pai tem um papel fundamental para a construção da inteligência emocional das crianças. Ter a consciência disso, além de reconhecer a carga ancestral que as mulheres possuem na educação parental, é um passo muito importante para que os homens saibam que precisam de muita prática para chegar na naturalidade em que as mulheres exercem a maternidade. Por outro lado, as mulheres precisam abrir espaço (que tem sido ocupado por elas há muitos anos) para que os homens possam se posicionar em novos territórios e ressignificar o papel de pai do seu próprio jeito, com a masculinidade que lhes cabe.
Afinal, não é realista esperar que nós, pais homens cheguemos ao patamar que as mães estão, mas de mãos dadas podemos construir uma nova balança com todos ensinando uns aos outros. Vamos usar a linha do learn by doing & learn by teaching (aprender fazendo e ensinando).
5. Incentivar uma mudança de cultura na educação infantil (adaptar a linguagem).
Na maioria das vezes, você realmente presta atenção ao que o seu filho diz?
Quantas vezes precisamos só responder uma mensagem do trabalho, ou do grupo de amigos? Ou temos um último e-mail importante? Aproveitar uma chance única de comprar algo online? Ou só curtir/comentar/compartilhar algo em uma rede social?
Uma pesquisa realizada com 1.521 crianças de 6 a 12 anos pela Highlights, uma revista infantil norte-americana, mostrou que 62% das crianças reclamam que os pais estão distraídos demais para ouvi-las. E – surpresa! – os celulares são os principais responsáveis por isso. Em 28% dos casos, pais e mães estavam tão entretidos com o aparelho que mal prestavam atenção aos filhos. E não é só isso: juntos, celulares, TV’s e tablets foram a causa desse distanciamento entre pais e filhos em 51% das reclamações.
Esses números geram um grande espanto em todos e mostra que as famílias estão se conectando com o mundo digital ao mesmo tempo que estão se desconectando dos seus filhos. Se esse distanciamento já é historicamente maior do lado dos homens, a tecnologia pode estar contribuindo para uma maior desconexão. Uma violência gerada através da indiferença.
Nossas vidas nunca mais serão iguais e o grande presente que estamos recebendo à domicílio, com todos juntos em nossos lares é o AGORA. Para uma nova paternidade acontecer, basta uma coisa, decisão. Minha, a sua e a de todos.