Por Bianca Stock e Fernanda Lee (7 minutos de leitura) – Publicado originalmente em janeiro de 2020.
Todo professor deseja que seus alunos tenham sucesso acadêmico e se formem como cidadãos contribuintes na sociedade. Mas como atingir este objetivo quando as demandas de ensino acadêmico estão cada vez maiores e o tempo de ensino cada vez menor?
A educação é a base para construir uma comunidade. Em 2020, começa a vigorar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um conjunto de aprendizagens essenciais que regulará as escolas públicas e particulares do país. Este documento lista 10 competências gerais da BNCC que dizem respeito a formar cidadãos éticos, com capacidade de resolver problemas, trabalhar em equipe, argumentar, defender seu ponto de vista, respeitar o outro e desenvolver a consciência crítica.
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Além disso, a base está fundamenta na ética do cuidado, que contempla o cuidado de si, do outro e do mundo. Nesta perspectiva, a formação ética dos sujeitos e grupos se faz pelo exercício da responsabilidade, que se constrói a partir de relações não-violentas e da experiência empática. A proposta também define que é na experiência, por meio da participação, que estas aprendizagens se desenvolvem, na medida em que os alunos elaboram o senso de capacidade em contribuir com o ambiente em que vive e com as pessoas com as quais convive. Como colocar tudo isso em prática quando a cada ano aumentam as exigências sobre o professor de dar conta do currículo, aumenta a pressão dos pais sobre a escola para aumentar a carga acadêmica e a aparente falta de interesse dos alunos?
Não há resposta mágica para transformar a educação. Mas se pudéssemos sugerir dois elementos para chegar mais próximo da magia da transformação seriam: consistência no ensino e capacitação para professores em competência socioemocionais.
A Disciplina Positiva oferece o currículo e a metodologia para ensinar por meio de vivências e serve como um catalisar desses dois elementos. Fundamentada na teoria dos psicólogos humanistas Alfred Adler e Rudolf Dreikurs, atende as necessidades humanas básicas de aceitação (“Eu sou querido.”) e de importância (“Eu faço a diferença.”) dos alunos e dos profissionais que trabalham na escola. Pessoas que se sentem conectadas com o seu ambiente social se comportam melhor, e como consequência melhora o clima todo e a cultura da escola (a parte invisível, porém existente em qualquer ambiente escolar).
Podemos fazer a seguinte correlação entre a Ética do Cuidado e a Disciplina Positiva, que esclarece a construção das habilidades socioemocionais para os professores:
Competências socioemocionais pela ética do cuidado
Desenvolvimento da percepção:
“Eu posso desenvolver sabedoria e habilidades de julgamento por meio da prática diária”
Que corresponde à habilidade de avaliação.
Usar a sabedoria para avaliar as situações de acordo com valores apropriados.
O cuidado de si
Desenvolvimento da percepção:
“Eu sou capaz” que corresponde à habilidade intrapessoal.
Entender as suas próprias emoções e usar esse entendimento para desenvolver autodisciplina e autocontrole.
O cuidado com o outro
Desenvolvimento da percepção:
“Eu contribuo de maneira significativa e sou genuinamente necessário” que corresponde à habilidade interpessoal.
Trabalhar com os outros e desenvolver amizades por meio de comunicação, cooperação, negociação, troca, empatia e escuta ativa.
O cuidado com o mundo
Desenvolvimento da percepção:
“Eu uso o meu poder pessoal para fazer escolhas que influenciam positivamente o que acontece comigo e com a minha comunidade” que corresponde à habilidade sistêmica.
Saber lidar com os limites e consequências da vida cotidiana com responsabilidade, adaptabilidade, flexibilidade e integridade.
Alguns exemplos de atividades do currículo da Disciplina Positiva que ensinam essas habilidades, competências e conhecimento são:
- Os 5 Rs da rotina
- Perguntar versus mandar
- Faça o que eu digo
- Funções em sala de aula
- Malabarismo cooperativo
- Rodas de encorajamento
- Autorregulação: cérebro na palma da mão
- Escuta eficaz e ineficaz
- Perguntas “o que” e “como”
Com o objetivo de oferecer um ambiente educativo favorável ao desenvolvimento destas percepções e habilidades, desde a educação infantil até o ensino médio, seguem algumas perguntas para reflexão:
Como você, professor, avalia estas percepções e habilidades desenvolvidas em si próprio?
Quais experiências você propõe de forma regular para que seus alunos desenvolvam estas percepções e habilidades e elas se desdobrem no cuidado de si, do outro e do mundo?
A educação está em processo de mudança de paradigma. O modelo de obediência e submissão aluno/professor está se transformando num modelo de colaboração e encorajamento. O papel do professor também está mudando. Em vez de controlar o comportamento dos alunos, o professor se torna um líder de uma comunidade construída.
A Disciplina Positiva oferece ferramentas práticas para capacitar os professores para serem líderes eficientes, com mais de 50 ferramentas práticas para desenvolver habilidades de vida. Isso é a BNCC na prática. O resultado é o fortalecimento do senso de conexão e da aprendizagem significativa.
Bibliografia:
Base Nacional Comum Curricular http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
Nelsen, J., Lott, L. e Glenn, S. Disciplina Positiva em sala de aula – como desenvolver o respeito mútuo, a cooperação e a responsabilidade em sua sala de aula. 4ª edição – Barueri, SP: Manole, 2017.